sábado, 12 de maio de 2012

OS SETE SABERES NECESSÁRIOS PARA A EDUCAÇÃO DO FUTURO


Os sete saberes necessários à educação do futuro não têm nenhum programa educativo, escolar ou universitário.

Aliás, não estão concentrados no primário, nem no secundário, nem no ensino universitário, mas abordam problemas específicos para cada um desses níveis.

Eles dizem respeito aos setes buracos negros da educação, completamente ignorados, subestimados ou fragmentados nos programas educativos. Programas esses que, na minha opinião, devem ser colocados no centro das preocupações sobre a formação dos jovens, futuros cidadãos.
(Edgar Morin)
O Conhecimento.

O primeiro buraco negro diz respeito ao conhecimento. Naturalmente, o ensino fornece conhecimento, fornece saberes.
Porém, apesar de sua fundamental importância, nunca se ensina o que é, de fato, o conhecimento. E sabemos que os maiores problemas neste caso são o erro e a ilusão.

Ao examinarmos as crenças do passado, concluímos que a maioria contém erros e ilusões. Mesmo quando pensamos em vinte anos atrás, podemos constatar como erramos e nos iludimos sobre o mundo e a realidade.
E por que isso é tão importante? Porque o conhecimento nunca é um reflexo ou espelho da realidade. O conhecimento é sempre uma tradução, seguida de uma reconstrução. Mesmo no fenômeno da percepção, através do qual
os olhos recebem estímulos luminosos que são transformados, decodificados, transportados a um outro código, que transita pelo nervo ótico, atravessa várias partes do cérebro para, enfim, transformar aquela informação primeira em percepção. A partir deste exemplo, podemos concluir que a percepção é uma reconstrução.Tomemos um outro exemplo de percepção constante: a imagem do ponto de vista da retina. As pessoas que estão próximas parecem muito maiores do que aquelas que estão
mais distantes, pois à distância, o cérebro não realiza o registro e termina por atribuir uma dimensão idêntica para todas as pessoas.
Assim como os raios ultravioletas e infravermelhos que nós não vemos, mas sabemos que estão aí e nos impõem uma visão segundo as suas incidências. Portanto, temos percepções, ou seja, reconstruções, traduções da realidade. E toda tradução comporta o risco de erro. Como dizem os italianos

“tradotore/traditore”.

Também sabemos que não há nenhuma diferença intrínseca entre uma percepção e

uma alucinação. Por exemplo: se tenho uma alucinação e vejo Napoleão ou Júlio César,

não há nada que me diga que estou enganado, exceto o fato de saber que eles estão mortos.

São os outros que vão me dizer se o que vejo é verdade ou não. Quero dizer com isso que

estamos sempre ameaçados pela alucinação. Até nos processos de leitura isto acontece.

Nós sabemos que não seguimos a linha do que está escrito, pois, às vezes, nossos olhos

saltam de uma palavra para outra e reconstrói o conjunto de uma maneira quase

alucinatória. Neste momento, é o nosso espírito que colabora com o que nós lemos. E não

reconhecemos os erros porque deslizamos neles. O mesmo acontece, por exemplo, quando

há um acidente de carro. As versões e as visões do acidente são completamente diferentes,

principalmente pela emoção e pelo fato das pessoas estarem em ângulos diferentes.

No plano histórico há erros, se me permitem o jogo de palavras, histéricos.

Tomemos um exemplo um pouco distante de nós: os debates sobre a Primeira Guerra

Mundial. Uma época em que a França e a Alemanha tinham partidos socialistas fortes,

potentes e muito pacifistas, e que, evidentemente, eram contrários à guerra que se

anunciava. Mas, a partir do momento em que se desencadeou a guerra, os dois partidos se

lançaram, massivamente a uma campanha de propaganda, cada um imputando ao outro os

atos mais ignóbeis. Isto durou até o fim da guerra. Hoje, podemos constatar com os eventos

trágicos do Oriente Médio a mesma maneira de tratar a informação. Cada um prefere

camuflar a parte que lhe é desvantajosa para colocar em relevo a parte criminosa do outro.

Este problema se apresenta de uma maneira perceptível e muito evidente, porque as

traduções e as reconstruções são também um risco de erro e muitas vezes o maior erro é

pensar que a idéia é a realidade. E tomar a idéia como algo real é confundir o mapa com o

terreno.

Outras causas de erro são as diferenças culturais, sociais e de origem. Cada um

pensa que suas idéias são as mais evidentes e esse pensamento leva a idéias normativas.

Aquelas que não estão dentro desta norma, que não são consideradas normais, são julgadas...

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EDITANDO

Outro aspecto da incompreensão é a

indiferença. E, por este lado, é interessante abordar o cinema, que os intelectuais tanto

acusam de alienante. Na verdade, o cinema é uma arte que nos ensina a superar a

indiferença, pois transforma em heróis os invisíveis sociais, ensinando-nos a vê-los por um

outro prisma. Charlie Chaplin, por exemplo, sensibilizou platéias inteiras com o

personagem do vagabundo. Outro exemplo é Coppola, que popularizou os chefes da Máfia

com “O Chefão”. No teatro, temos a complexidade dos personagens de Shakspeare: reis,

gangsters, assassinos e ditadores. No cinema, como na filosofia de Heráclito:

“Despertados, eles dormem”. Estamos adormecidos, apesar de despertos, pois diante da

realidade tão complexa, mal percebemos o que se passa ao nosso redor.

Por isso, é importante este quarto ponto: compreender não só os outros como a si

mesmo, a necessidade de se auto-examinar, de analisar a autojustificação, pois o mundo

está cada vez mais devastado pela incompreensão, que é o câncer do relacionamento entre os seres humanos.

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EDGAR MORIN
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http://cursos.unipampa.edu.br/cursos/ppge/files/2010/11/Edgar-Morin.pdf
















































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